Saí caminhando pela rua mesmo no meio de tanta chuva.A jaqueta me protegia o peito e o capuz a cabeça.Não sabia aonde ir, nem onde descansar meus olhos.Volto no tempo, escrevo no presente o que sentia naquele momento:
A angústia provocada por esse sentimento de inadequação infecciona minhas perspectivas e apodrece minha esperança.E um espinho vai sendo cravado na carne a cada passo em direção ao nada.
Ao invés de falar, escrevo, não tenho direito ao silêncio, deixo-me entorpecer pelos meus medos, vou me desintegrando por causa da agonia.Derreto nessa chuva fria.
Não consigo manter em segredo a minha amargura.
Não posso agüentar calado, preciso gritar, mas o som da minha voz se dissiparia no ar, melhor escrever, sei que palavras escritas também se calam por causa do esquecimento, mas tenho certeza que o que entra pelos olhos durará mais tempo do que aquilo que penetrou pelos ouvidos.
Sinto-me perder por entre a multidão, vou me misturando aos personagens dessa cidade, meninos de rua cheirando cola, o trottoir das garotas de programa, as gravatas coloridas dos executivos, as carroças dos catadores de lixo e o chapéu furado do mendigo.
Vou me confundindo com o concreto das calçadas, afundando no asfalto, vou me impregnando de poluição, da fuligem das fábricas e da fumaça dos automóveis.
E a soma de todas as coisas enormes desse lugar resultam em outra coisa surpreendente pequena, de repente São Paulo toda não passa de uma poça d´água barrenta com pedaços de plástico boiando em sua superfície.
E a água está escorrendo pra dentro de um bueiro.
E então depois da destruição, renasço das cinzas, a essa altura estou todo ensopado, a chuva vai lavando meus pecados, um jardim vai germinando em mim, nascem gerânios em meus olhos, vão brotando girassóis em meus cabelos e os meus pelos transformam-se frésias. Por cima da minha pele esfolada cresce uma grama verdinha.
Lavado e remido, volto pra casa, com a fúria contida, com os escombros revirados e com um jardim cobrindo o corpo, tudo volta pro lugar, mas só até a próxima chuva.
Andre Luis Aquino
http://andre.aquino12.blog.uol.com.br/
26 de julho de 2007
Andre Luis Aquino
às 09:16:00
Marcadores:
Andre Luis Aquino
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário