Juvenília
III
Tu és a aragem perdida
Na espessura do pomar,
Eu sou a folha caída
Que levas sobre as asas ao passar.
Ah! voa, voa, a sina cumprirei:
Te seguirei.
Tu és a lenda brilhante
Junto do berço cantada;
Eu sou o pávido infante
Que o sono esquece ouvindo-te a toada.
Ah! canta, canta, a sina cumprirei:
Te escutarei.
Tu és a onda de prata
Do regato transparente;
Eu a flor que se retrata
No cristal encantado da corrente.
Ah! chora, chora, o fado cumprirei:
Te beijarei.
Tu és o laço enganoso
Entre rosas estendido;
Eu o pássaro descuidoso
Por funesto prestígio seduzido.
Ah! não temas, a sina cumprirei:
Me entregarei.
Tu és o barquinho errante
No espelho azul da lagoa;
Eu sou a espuma alvejante
Que agita nágua a cortadora proa.
Ah! voga, voga, o fado cumprirei:
Me desfarei.
Tu és a luz da alvorada
Que rebenta na amplidão;
Eu a gota pendurada
Na trepadeira curva do sertão.
Ah! brilha, brilha, a sorte cumprirei:
Cintilarei.
Tu és o íris eterno
Sobre os desertos pendido;
Eu o ribeiro do inverno
Entre broncos fraguedos escondido.
Ah! fulge, fulge, a sorte cumprirei:
Deslizarei.
Tu és a esplêndida imagem
De um romântico sonhar;
Eu cisne de alva plumagem
Que falece de amor a te mirar.
Ah! surge, surge, o fado cumprirei:
Desmaiarei.
Tu és a luz crepitante
Que em noite trevosa ondeia;
Eu mariposa ofegante
Que em torno à chama trêmula volteia.
Ah! basta, basta, a sina cumprirei:
Me abrasarei.
Fagundes Varela
Parte 3 do Poema
27 de julho de 2007
Juvenília
às 14:21:00
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