30 de outubro de 2007

Soneto do gato morto





Soneto do gato morto


Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade
De haver sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.

Vinícius de Moraes



O gato


O gato é secreto.
Tece com calma o mistério do mundo.
O gato é elétrico.
Pura energia a percorrer a espinha.

O gato é orgulho.
Sem humildade, jamais se entrega.

O gato é desejo.
Atração pela lua e telhados.

O gato é sagrado.
Olho no olho que brilha.

Um susto.
Parece que vemos Deus.

Donizete Galvão








Por quê?

Por que me culpas
de coisas que nem tentei fazer ?
Por que me julgas se escutas
coisas que nem imaginei falar ?
Por que me maltratas
quando eu te quero bem ?
Por que me silencias
antes de ter a chance de te amar ?

Por que me tiras o sono
e assim deixo de sonhar ?
Por que me viras o rosto
e assim deixo de ver teu olhar ?
Por que me respondes com outra pergunta ?
Por que me enlouqueces com a tua loucura ?
E do nada acabas com tudo.

Autoria de Jorge Lennon

Nenhum comentário: