25 de abril de 2008

Impermanência e liberdade





Impermanência e liberdade


Os mestres budistas aconselham-nos a pensar constantemente na impermanência.

Em vez de considerarmos que se trata de um pensamento mórbido que conduz à depressão ou ao pessimismo, pensemos na liberdade que esse tipo de visão do mundo nos oferece.

Na verdade, muitas vezes desejamos a mudança. Por exemplo, não gostamos do nosso trabalho, os horários não nos convêm e detestamos o ambiente profissional. Estamos absolutamente fartos, só pensamos em mudar, mas temos a impressão de que isso nunca vai acontecer. Ora um dia, inesperadamente, recebemos um telefonema de um amigo com uma tentadora proposta de trabalho.

Embora na aparência a situação continue igual, durante as semanas ou os meses que faltam para deixarmos o emprego, tudo parece mais leve, mais fácil de suportar, até mesmo as relações com os colegas de trabalho se tornam mais agradáveis. lnacreditavelmente chega mesmo a acontecer que, nos últimos dias ou semanas, acabemos por ter pena de mudar. O fato de sabermos que a situação está chegando ao fim, ou seja, de descobrimos o seu caráter impermanente, aliviou toda a tensão e deu-­nos liberdade para encará-la sob um ponto de vista diferente.

O mesmo acontece por vezes nas relações sentimentais. Vivemos com alguém há vinte anos e a pessoa tomou-se parte "da mobília". Mal reparamos nela. Estamos tão mergulhados numa tépida rotina que nem sequer desejamos mudar. Até o dia em que a pessoa ameaça deixar-nos... Nesse dia acordamos e descobrimos subitamente o lugar que ela ocupa na nossa vida. Recomeçamos a oferecer-lhe flores, a dizer que a amamos e a acender velas para o jantar e, se não for tarde demais, talvez a magia volte.

Quantas pessoas começam realmente a apreciar a existência quando sabem que lhes restam apenas alguns meses de vida! Quantas só reconhecem o bem precioso que a vida é por terem escapado à morte!

É impossível negar o impacto positivo, verdadeiramente libertador, que a impermanência pode ter na existência ao trazer-lhe frescura, liberdade, desafogo e uma capacidade de apreciação das coisas pelo seu justo valor. Por nos aproximar da realidade da existência, a meditação sobre a fragilidade do mundo é um fator altamente dinamizador.

Talvez não precisemos de circunstâncias tão dramáticas para tomarmos consciência da impermanência, talvez não tenhamos de ser condenados à morte para começar a viver, se aprendermos a dar leveza e magia à nossa vida meditando a todo instante que "tudo muda".

(Tsering Paldrön, in “A arte da vida – os fundamentos do Budismo”)

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