Comportamento virtual

Esquizofrênico Virtual


Quantos seres vivem dentro de cada um de nós?


Sempre que entro num chat utilizo um nickname diferente, de acordo com o estado de espírito do momento: Mi Ching, Debukisondetêibou, Thom Yorke, Gazebo, Whisky Zito e por aí vai. Às vezes, ao encontrar um conhecido, mudo completamente o meu estilo de escrever e vou jogando pistas pelo caminho da conversa pra ver se ela me reconhece. Invariavelmente não; e aí eu revelo minha máscara verdadeira.


Eu me lembro de um conto do Machado em que ele tecia a seguinte hipótese: não existe uma só pessoa vivendo dentro do nosso corpo, mas várias. Talvez isso explique o porquê de sermos tão vários ao longo de um dia. No trabalho, somos de um jeito; com a família, de outro; com os amigos, revela-se uma nova faceta; e assim por diante.


Um ator esconde diversas personas dentro de si: médicos, cafetões, poetas, Don Juans, carpinteiros. Ora, uma sala de chat nada mais é do que o palco ideal para a liberação de tais facetas. Mas uma coisa é certa: cada um desses personagens carrega um muito de mim. Por mais diverso que eu possa parecer dentro de um bate-papo, jamais minto a respeito da minha aparência ou da minha ideologia de vida. Neste ponto, fico com as palavras do Borges: "a verdade é sempre o melhor álibi".


Alexandre Inagaki