5 de agosto de 2007

jayme kopke







Velho estilo

O que hoje quero é algo
que me possua
que me agarre a garganta e declare
já não é tua
e me montando a voz, ou o que dela resta
a faça relinchar como uma besta
e a ponha a escoicear quem vai na rua
e a faça galopar solta por fim
de mim
até aonde acaba o planeta
e aí fique a berrar ou então quieta
para sempre, conforme lhe apeteça
quero essa coisa que me pegue na mão
e me declare a mão independente
para fazer o que bem queira e invente
ou não
e que me agarre pés, tronco, cabeça
e os faça dançar tanto, mas tanto
que eu exausto de inveja e de espanto
já não os reconheça

e sofra então a dor de não ter sido
jamais como esse outro
possuído

jayme kopke







Máscara

Até o amor nos ensinar
dançaremos como quando dança
o mar
água que por dançar se deita
sem transparência
até lavarmos nossa cara
dentro da imprevista onda
derradeira
do mar a água mais clara:
a mais funda.

Até que a paixão nos instrua
dançaremos como se dançasse
a lua
que enquanto gira sempre oculta
a mesma face
até mudarmos nossa roupa
para vestirmos a máscara
absoluta
da lua a face mais clara:
a outra.


Jayme Kopke





Playground

Outra vez, menina
a brincar com escorpiões
já não te disse que não fazem bem
só por te sentares assim,
obliquamente
a saia tão rodada que quase
tapa todo o mal


só por saberes trespassar as coisas
com esse olhar que é como se não visse
o mundo todo, à tua volta, translúcido
como essa jóia com que te divertes
bela, pequenina e venenosa
ah, menina, menina,
a mexer no que não deves
só porque o teu olhar atravessa as coisas


como se apenas te importasse o que está além
pois fica a saber que as coisas,
menina,
somente as coisas
te ferirão

jayme kopke

Nenhum comentário: